segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Entre amigos e amizades


O maior erro da minha vida sempre foi querer ter uma única melhor amiga em cada fase da minha vida. Eu conhecia alguém e ia logo avisando: “Nem adianta tentar, esse lugar é da Fulana”.

Foi assim desde que eu era criança. Lembro que primeiro veio a Cris. Lembro da Cris porque, antes dos meus 6 anos, quando fui para Curitiba, todo mundo era meu amigo. Criança é assim, né? Gosta de todo mundo, e todo mundo gosta dela. Depois da Cris, a Camilla. E então tive a minha primeira dúvida cruel: Camilla ou Vivian? Optei pela Camilla e, mesmo assim, nem Cris nem Vivian deixaram de gostar de mim. Tampouco eu, de amá-las. Então veio a separação dos meus pais e, com ela, a minha separação das minhas amigas.

Voltamos para Foz, eu, mamãe e meus irmãos. No começo, nos escrevíamos frequentemente, mas, com o tempo, as cartas foram deixando de ir. E de vir. Mesmo assim, nas raras vezes que fui a Curitiba nessa época, fui visitá-las. É interessante e confuso essa sensação que a gente tem de reencontrar alguém de quem gostamos muito. Mesmo que essa pessoa seja completamente diferente do que a gente conhecia. Ela faz parte do nosso passado e, geralmente, é bom. Toda vez que encontro um amigo antigo, no Orkut, me sinto como o Brodouteau quando a Amélie Poulain entregou seu tesouro perdido.

Outro dia encontrei uma amiga dessa época, de Curitiba. Ana Paula Perinazzo. Me lembro perfeitamente dela. Papai me disse que, quando eu fui embora, ela recebeu a medalha de melhor aluna da classe. Eu tinha recebido as dos bimestres anteriores. Apesar de conviver com ela apenas 6 meses, gostava muito dela. Quando eu não passei no Cefet, me lembro de ter ficado feliz de ver que ao menos alguém que eu conhecia tinha passado. Era ela. Mas ela não lembra de mim, perguntou quem eu era, tentei explicar e, como ela não se lembrou, acho que nem aceitou meu convite. Enfim, a vida é assim. Eu me esqueço de algumas pessoas, por que outras não se esqueceriam de mim?

Até essa época, quando voltei para Foz, não me lembro de nenhum inimigo. Até os 10 anos a gente é muito novinho para criar desavenças, não?

Chegando em Foz, passei por longos 5 anos sem uma amiga de verdade. Eram todas amizades passageiras, por vezes interesseiras. Eu era a típica gorducha nerd, e as meninas populares sempre precisam humilhar a gente para se sentirem bem. Foi na sétima série que a conheci. Sorriso fácil, jeitinho doce... ninguém imagina que, quando fica nervosa, Laisoca vira uma bomba. Das mais explosivas!!! A Laisa é o primeiro nome que me lembro de uma amiga de verdade, de amizade duradoura. Destas que suporta tudo, inclusive o tempo. O tempo, aliás, é muito cruel. Afasta quando a gente menos espera. Quando menos quer. Estou sendo ingrata se disser que a Laisa é a única amiga que tive nessa época. Sempre gostei muito da Stela, Antonieta, Fernandinha, Fernanda Rosa, Thais, Talita, Fabi e Thaty. Entretanto, seja lá qual for o motivo, foram amizades com prazo de duração curto. Com a maior parte delas ainda converso, mesmo que raramente. Mas a única com quem sempre existe um esforço mútuo de manter contato, de fazer visitar, de ver como está e de se sentir bem por estar junto é a Laisa. E é tão bom isso.

Nessa época consegui, também, uma grande inimiga. Elaine. Na verdade, não me lembro o motivo da inimizade, mas houve. Criança é assim mesmo. Graças a Deus, a gente cresce. E reencontrei, por acaso do destino e a evolução da internet, a Elaine. Ela me encontrou, aliás. E depois de tantos anos, descobri nela uma mulher inteligente, bonita, de muito bem com a vida. Não nos tornamos amigas íntimas, mas gosto de pensar que agora somos amigas. Já é bem mais que colegas. O nosso contato, para ser sincera, é bem esporádico. Só que, ao menos para mim, essa reaproximação fez bem.

Aliás, agora me lembro de uma arquiinimiga que tive quando era um toco de gente. Devia ter, no máximo, uns 6 anos. Aline. É afilhada da minha avó e, na época de colégio, éramos inimigas mortais. Eu tinha certeza absoluta de que ela tinha inveja de mim, e imagino que ela imaginava o mesmo da minha pessoa. Lembro de me esconder dela no intervalo, com medo de apanhar. Ela com sua ‘gangue’ e eu, com a minha. Éramos líderes, isso é fato. Hoje ela é minha amiga do Orkut e, sempre que vejo suas fotos, tenho uma sensação imensa de pessoa alegre. É bom isso, ela tem um sorrisão que contagia a gente. Minha avó sempre me disse que ela era uma menina querida, eu que teimava em escutar.

Mais uma vez, a vida deu suas voltas. Fui para Corbélia e a Laisa, para Londrina. Ficamos, por algum tempo, sem nos falar. A volta foi com força total. Laisa está ainda mais linda, e sua amizade me faz ainda melhor.

Em Corbélia, conheci muita gente. Foram alguns dos anos mais intensos da minha vida. A cidade era muito pequena, o que tornava a vida social muito grande. Graças à Samanta, confesso. Se não fosse essa ‘pop amiga’, não teria conhecido tantas pessoas. A Sasá era a conselheira da cidade. Todos gostavam dela. Por que comigo seria diferente? E Sasá me fez conhecer Mariana. Não a pessoa Mariana, essa eu já conhecia. E não gostava. Mas a amiga Mariana. Foi sem a Sasá perceber, porque, quando se deu conta, já era toda ciúmes. E já não gostava tanto da Mariana. Eu sim. Da Sasá e da Mariana. Elas é incrível, eu nunca consegui separar. Já me pediram exclusividade, mas não dá. Amo Sasá e amo Mariana. Mas amo muito mais a dupla junta. Ainda mais quando é trio, eu, Sasá e Mariana. Aí é só festa.

Eu apenas habitava em Corbélia. Estudava e passava a maior parte do meu dia em Cascavel. Lá, sim, fiz grandes amigos. Foi quando comecei a partilhar a idéia de que posso – e devo! – ter grandes amigos. Entretanto, continuava com a idéia fixa da melhor amiga. São tantos os nomes que nem sei por onde começar... Sophia, Adri, Aline, Adelita, Fabi, Tamara, Dé, Déia, Jota, Du, Maurício, Taci, Bululu e Jackie. Esses foram os mais duradouros, porque eu era amiga – ou pelo menos me sentia amiga – de quase toda a sala. Com alguns eu não falo mais. Coisas do tempo. Todos, entretanto, têm espaço especial em meu coração. Mas a Jackie... a Jackie era caso de paixão. A Jackie é caso de paixão. E foi graças a ela que eu consegui perceber que eu posso, sim, ter mais de uma melhor amiga. No meu tempo de convívio diário com a Jackie, a Laisa e eu tínhamos perdido contato. Quando entrei na faculdade – e a faculdade é o tempo em que mais conhecemos gente, é incrível! -, não me permitia substituir a Jackie como tinha feito com a Laisa. Queria a Jackie em cada momento, em cada descoberta. Fazíamos planos juntas, mesmo distantes. Nossos caminhos, mesmo tão distintos, se cruzavam sempre. Porque a gente queria que fosse assim. Porque não nos permitíamos acabar com o passar do tempo.

Mas aí veio a briga. Dessa eu prefiro nem lembrar. Foram dias negros, tristes mesmo. E, em meio a esses dias, aparece a Graci. Tão depressiva quanto os dias que eu passava, tão sem vontade, quanto eu me encontrava. Entretanto, juntas, construímos um mundo. Jamais outra pessoa poderia nos ter ajudado tanto quanto nós mesmas. E, com a certeza de que não substituiria a Jackie, e a certeza maior ainda de que já amava a Graci, não tive dúvidas: foi muita bobeira minha querer uma só, até então. Resolvi me abrir pro mundo. Ser amiga de verdade, sincera. Me valeu, e como. Jão, Lari-ari, Buzzi, Tiba, Fabi, Maris, Jux, Ina, Mah, Patinha, Cê, Gogéguio, Carol, Driks, Ádlia, Gabi... tantos que até falho em não citar. Assim como não esqueço de cada um dos amigos que fiz nessas idas e vindas da minha vida, sejam eles virtuais ou não. Ou virtuais que se tornaram reais.

O triste é que, mesmo com tão pouco tempo, com alguns tenho contato mais raro que com amigos muito mais antigos. Mesmo assim, me enche a alma quando se lembram que aqui, perdida no meio do nada, tem um alguém que sente muito a falta deles. E que, com a maturidade, aprendeu que cada um tem um valor único, ímpar, e insubstituível.


* A foto encontrei no google. Não sei de quem, sei que achei linda.

6 comentários:

Lucemary disse...

Filha, que texto mais lindo!
Amei.
Voce conseguiu falar tao direitinho mas tao direitinho do que sente (e eu sei!) e do que pensa... espero que cada um dos seus amigos possa pressentir a dadiva que eh poder contar com sua amizade e seu amor... :)
Melhor ainda, sabe o que? Saber que, por tabela, me tornei amiga de alguns aih... ;)

Mariana Schecheli disse...

Enquanto lia seu texto, os pelinhos do meu corpo iam se arrepiando tudo.. o que sera?? Sera que é porque quando eu lia eu me reconhecia.. e tambem voltei no tempo?
Lindooo ter você como amiga, e sentir que mesmo depois de tanto tempo o sentimento ainda é reciproco... Eu já falei milhoes de vezes o quanto eu adoro seus textos, ei quer faz um favor? Nao pare de escrever nunca!
Agradeço sempre por ter tido a oportunidade de ter conhecido e compartilhado os melhores momentos que já vivi com vc..

Larissa Bortolli disse...

nossa flor, me via no seu texto, e a gente é besta né, depois que cresce que percebemos que amigos amigos são poucos, mas que sim, com toda certeza, são mais de 1!
Temos amigos e amigas verdadeiros a todo momento, nas horas mas alegres e tb nas mais tristes. Tb temos amigos ausentes que mesmo ausente se fazem presentes...enfim, amo ter amigas e amigos com os quais posso contar, dos quais sinto uma enorme falta, vc com certeza é uma delas!

Mulheres de Atenas disse...

Paula do céu.
Q texto mais lindo, sensível, poético.
Me reconheci em vária partes dele. Principalmente qdo vc fala das amizades de infância, aquelas que se distanciam, reencontram-se e vc vê q há um laço invisível q une vc e aquele mulherão q era uma pirralha qdo dividia as tardes com vc.
Foi difícil imaginar vc com uma amiga só. Daonde... Com esse coração enorme!

Beijos
tatilazz.zip.net
mulheresdeathenas.blogspot.com

Maya disse...

Concordo.
Cada pessoa é um universo inteiro; como escolher apenas uma para ser a melhor? Como escolher apenas uma estrela para ser a preferida, uma palavra para ser imortal?
Não dá.

Maristela Valério disse...

De bonito!!! Vc esqueceu de dizer q eu tbm fui sua arqui -inimiga antes de ser sua amiga!!! HAHAHAHAH!!!

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