"Alô."
"Mãe, você estava dormindo?"
"É isto que eu costumo fazer às cinco da manhã, filha..."
Se eu não tivesse saído bruscamente do sono profundo, teria tido presença de espírito e respondido "não, minha filha, dançava rumba!".
"Mãe, eu tô bem. Eu tô bem, mãe. Mas não sinto minhas pernas. Mas eu tô bem."
"Como assim, Maya?"
"Eu tô bem, mãe. Eu tô bem."
"Filha, o que aconteceu."
"Eu caí do telhado, mãe. Mas eu tô bem."
"Minha filha, o que você fazia em cima do telhado às cinco da manhã?Você já foi ao hospital?"
Seguiu-se um amontoado de frases insanas, sem sentido, das quais a única palavra que apreendi foi chaves. Na verdade, àquela altura, o porquê não interessava.
"Foi ao hospital, filha?"
"Não, mãe, eu vou agora. Se eu parar de falar, é que meu celular descarregou."
"MAYA!!!!! Me dá o telefone de alguém que tá com você!"
"Ninguém tem telefone, mãe. Ninguém. Agora eu vou pro hospital, mãe. Tô indo. Depois te ligo, viu?"
E desligou. Assim, sem mais. Assim mesmo. Me acorda de madrugada, conta que caiu do telhado e desliga.
"Mãe, não falei que tô indo pro hospital?"
"Filha, onde você está?"
Ela fala o nome do bairro.
"E pra qual hospital você vai?"
"Não sei, mãe, não sei. Na Vicente, acho."
"Que hospital, Maya?"
"PRA QUE HOSPITAL A GENTE VAI, PESSOAL? Pro Pilar, mãe, pro Pilar."
"Nossa Senhora do Pilar, filha?"
"Isso, mãe."
"Filha, quem está aí com você?"
"A Manu, mãe. A Manu."
"Qual o celular da Manu?"
"MANUUUUUUUUUUUU!!!! FALA SEU CELULAR PRA MIM!"
Celular devidamente anotado, telefone mudo, coração inquieto. Ligo pra Gi, morrendo de vergonha de incomodar minha amiga, mas me digam: o que pode mais fazer uma mãe que está a dois mil quilômetros da filha que acaba de cair do telhado e que liga pra ouvir a voz da mãe e se sentir segura? Procurar alguém que possa cuidá-la, já que a mãe está longe.
Menos de cinco minutos: "Mãe, já tô no hospital. Nosso amigo é médico, ele trabalha aqui, vai atender a gente. Parece que não foi nada, não."
Outros três minutos depois: "Mãe, já fui atendida. Ele me deu remédio, eu tô bem. Não foi nada não, só o susto."
"Como assim, já foi atendida? Não vai tirar radiografia, ver se quebrou algo?"
"Já tirou, mãe, já tirou. Tô indo pra casa."
"Não vai não, Maya. A Tia Gi tá indo praí ver você, pra me dar notícia. Espera ela chegar!"
"Não, mãe! Você incomodou a Tia Gi porque???? Não posso esperar, mãe, o pessoal vai me dar carona! Tenho que ir pra casa, dormir. Repousar."
Ligo de volta, com minha grande cara de pau, e digo à Gi que não precisa mais sair. Na verdade eu só a tinha acordado pra colocar mais emoção na sua vida, e fazer o grande favor de prepará-la pra 'pós adolescência' da Carol. Obrigada, amiga, e desculpe mais uma vez.
"Maya, chegando em casa põe este celular pra carregar, entendeu? Não vai dormir sem fazer isto, entendeu?"
.
Passaram-se só quarenta e cinco minutos do momento em que acordei até agora. Preciso falar com alguém. Ligo pro Paulo? Coitado, não. Vai se preocupar e não vai adiantar nada, está longe também. Melhor esperar dar umas seis e meia, aí ele já deve ter levantado pra trabalhar... sábia decisão, esta. Depois pensei melhor e pensei que não, eu não deveria preocupá-lo. Melhor deixar que a Maya conte, assim ele vê que está tudo bem com ela.
.
Não, eu não fiquei brava por você ter ligado, filhota. Na verdade, fiquei angustiada sem saber se você estava bem mesmo ou só dizia isto pra me tranquilizar. E quase posso apostar que só foi ao médico pela tarde, já cheia de dores. Na verdade, você ligar pra mim neste exato momento me fez muito bem: percebi que continuo, mesmo distante, sendo um porto seguro pra você. E que você continua sabendo que pode contar comigo, sempre, a qualquer hora. Confiar em mim quando precisar. Ligar a qualquer momento, de qualquer lugar - seja pra contar que saiu Lady Hawk e o feitiço de Áquila no Imagem e Ação (e que você não acertou!), seja pra contar que caiu do telhado às cinco da manhã. Mesmo que a minha primeira vontade seja pegar você pelo braço, deitar no meu colo de barriga pra baixo e descer a mão até que ela inche. Ou sua bunda, ou minha mão.
5 comentários:
Ah, o amor de mãe. Tão bom e tão neurótico. Eu amo essa neurose. Quero essa neura sempre, sempre, sempre. É bom ter porto seguro. É bom ter colo, mesmo que seja para umas boas palmadas. Incha na hora (a mão ou a bunda) mas esclarece depois e fica pra sempre. =)
Hein, nem foi muito assim não... Eu tive o cuidado de dizer que não conseguia erguer minhas pernas, porque sabia que se eu dissesse que não conseguia mexê-las ia ser pior...
Mas, fala sério, não é emocionante essa adrenalina?
hahaha
=D
Mas agora tá tudo bem, quer dizer...Pelo menos não quebrei nada, né... haha Fora o meu bolso, é claro, mas dos males o menor!
=]
E depois eu me arrependi de ter ligado, mas eu REALMENTE não sabia o que fazer na hora.. hehe
Hahaha...
Maya, eu não acredito que você ligou pra mãe ÀS CINCO DA MANHÃ pra falar isso. E você nem foi ao hospital, fala sério. Foi só à tarde.
Seguinte... Qualquer coisa, liga pra mim. Eu vou ficar desesperada mas corro menos risco de uma taquicardia, tá?!
Beijo
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